segunda-feira, agosto 02, 2004
No cárcere.
O pior foi descobrir tudo.
Se eu ainda fosse inocente e tolo como um passarinho, ainda estaria cantando a vida de dentro da gaiola. Nascido preso, nunca saberia que as asas servem para além de pular do puleiro até o alpiste. Estaria feliz em minha gaiola, cantando e comendo e gagando em notícias de jornais velhos que não saberia ler.
Mas eu sei.
Não sei como ou quando descobri, mas vivo nessa cela escura e pequena. E estou ficando louco. Tateio cada centímetro da parede fria, a pedra úmida coberta de musgo, o fedor doce de um quarto de dormir fechado. Arranho a parede com minhas mãos nuas, faço marcas tolas e insanas da passagem dos anos, alucino com memórias de minha vida no cativeiro. Quão profundo é meu calabouço? Veja o sangue e todos esses machucados: fiz questão de arrancar o acolchoado que cobria as paredes. Não quero o conforto de não me machucar, não quero esquecer que estou preso aqui.
Não sei dizer realmente porque estou aqui. Na verdade até sei, e isso já ajuda um bocado no quesito sanidade. Preciso fugir, sei bem, mas a vítima capturada é também o juiz, o juri e o carrasco. Construi isso aqui em volta, não lembro como. Só descubro quando arrebento uma das correntes, ou arranco um pedaço do tijolo. Eu mesmo me coloquei aqui. Eu mesmo não sei onde estão as chaves; muito menos a porta.
Só tenho certeza da vida lá fora. Da assustadora liberdade. Do mundo infinito. Do tempo que passa e não volta. Da loucura que é estar prisão. Do frio e da solidão. De todos os clichês que já ouvi sobre a vida.
Só se vive uma vez.
Só, não consigo mais viver.
Vou fugir. E meu plano até que está funcionando.
Claro que de vez em quando a única coisa que faço é me atirar contra as paredes até não aguentar mais.
Sorte que não sou de ferro.
"Estamos, meu bem, por um triz
Pro dia nascer feliz
O mundo acordar
E a gente dormir"
Se eu ainda fosse inocente e tolo como um passarinho, ainda estaria cantando a vida de dentro da gaiola. Nascido preso, nunca saberia que as asas servem para além de pular do puleiro até o alpiste. Estaria feliz em minha gaiola, cantando e comendo e gagando em notícias de jornais velhos que não saberia ler.
Mas eu sei.
Não sei como ou quando descobri, mas vivo nessa cela escura e pequena. E estou ficando louco. Tateio cada centímetro da parede fria, a pedra úmida coberta de musgo, o fedor doce de um quarto de dormir fechado. Arranho a parede com minhas mãos nuas, faço marcas tolas e insanas da passagem dos anos, alucino com memórias de minha vida no cativeiro. Quão profundo é meu calabouço? Veja o sangue e todos esses machucados: fiz questão de arrancar o acolchoado que cobria as paredes. Não quero o conforto de não me machucar, não quero esquecer que estou preso aqui.
Não sei dizer realmente porque estou aqui. Na verdade até sei, e isso já ajuda um bocado no quesito sanidade. Preciso fugir, sei bem, mas a vítima capturada é também o juiz, o juri e o carrasco. Construi isso aqui em volta, não lembro como. Só descubro quando arrebento uma das correntes, ou arranco um pedaço do tijolo. Eu mesmo me coloquei aqui. Eu mesmo não sei onde estão as chaves; muito menos a porta.
Só tenho certeza da vida lá fora. Da assustadora liberdade. Do mundo infinito. Do tempo que passa e não volta. Da loucura que é estar prisão. Do frio e da solidão. De todos os clichês que já ouvi sobre a vida.
Só se vive uma vez.
Só, não consigo mais viver.
Vou fugir. E meu plano até que está funcionando.
Claro que de vez em quando a única coisa que faço é me atirar contra as paredes até não aguentar mais.
Sorte que não sou de ferro.
"Estamos, meu bem, por um triz
Pro dia nascer feliz
O mundo acordar
E a gente dormir"