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quarta-feira, agosto 30, 2006

Goela abaixo 

O pesadelo era sempre o mesmo:

Ele acorda, empapado de suor, em um quarto estranho. Tateia no escuro, derruba algumas coisas no chão, mas consegue acender o abajur na cabeceira. Onde estava? Que quarto era aquele?

O calor, além da sede insuportável, impediam-no de pensar melhor. Saiu debaixo da grossa pilha de cobertores, derrubando-os ao pé da cama. Confuso, sonolento, sedento, se indignou ao passar rápido em frente à janela, enquanto deixava aquele quarto: 'como pode estar nevando lá fora, e eu aqui com esse calor?'

Desceu a escada daquela casa silenciosa, lembrando-se vagamente que morava em um apartamento sem escada alguma, e foi direto até a cozinha. A sede ardia-lhe a garganta, o pijama grudava no corpo.

Abriu a geladeira num gesto brusco, fazendo tudo o que estava na porta dançar e gemer. Água, urgia enquanto os olhos se acostumavam com a luz amarelada, muita água gelada.

Manteiga, um pote pela metade de geléia, alguns tupperware com conteúdo suspeito, dois ovos e uma maça enrugada. Não era possível que não tivesse nada, nada mesmo para se beber naquele maldito deserto gelado. Nem um refrigerante, leite, suco, nada??

Finalmente, na parte de baixo da porta, avistou uma garrafa de vidro, sem rótulo, cheia até a metade.

Água gelada! Água gelada! Água gelada! celebrava seu cérebro alucinado, enquanto abria a garrafa e entornava sonoros goles.

Então fica tudo em câmera-lenta.

Ele, de pé naquela cozinha escura, com a geladeira aberta, matando a sede depois de acordar naquela casa estranha...

...até que o estômago parece explodir como vidro lacerante. A dor sobe a garganta jorrando como lava ácida até chegar na boca.

A breve e primitiva esperança do gozo paradisíaco, o alívio orgástico de água fresca em alguém morrendo de sede, no meio da madrugada, é cuspida para fora num jato errático.

-Essa porra é vodka,

constata, entre a surpresa e a raiva, antes de acordar.


"The nice part about being a pessimist is that you are constantly being either proven right or pleasantly surprised."

segunda-feira, agosto 28, 2006

Faith is the daring of the soul to go farther than it can see 

De baixo daquela barba grisalha, abandonada; daquele corpo empenado, enferrujado, pareceu emergir um jovem de imenso carisma.
O casal ficou parado na porta, incapaz de sair da pequena sala esfumaçada, como se procurasse onde fora parar o velho vidente, charlatão e gagá, cuja consulta, recém encerrada, se provara um verdadeiro fiasco.

Marcaram hora, com 15 dias de antecedência. Chegaram cedo, e ficaram esperando sozinhos nas pequenas cadeiras que serviam de sala de espera. Entraram relutantes, se apresentando ao silencioso anfitrião.
Por quase uma hora, eles contaram toda a história, enquanto o velho parecia cochilar e resmungar. Ao terminarem, o velho suspirou. Eles se levantaram, indignados, e estavam prontos para partir.


-Existe sim um jeito - disse o velho, olhando diretamente para ela. Sua voz era profunda, firme.

De repente ela entendeu, pela primeira vez em quase um ano de desesperada procura, que ele falava sério. No caos subsequente àquele maldito tumor que devorava suas entranhas, depois de inúmeros feiticeiros, pais-de-santo, curandeiros, espíritas e outros tantos, finalmente encontrou alguém que, por algum motivo, ela tinha certeza que dizia a verdade. Ela acreditou que havia um jeito.

O marido, sem qualquer epifania de compreensão, avaliou bem o olhar arregalado e ansioso dela. Suspirou, achando que já não tinham mesmo o que perder, e tirou a carteira do bolso.

-Quanto vai custar, hein?

O velho balançou a cabeça, dispensando com um gesto seco o talão de cheques. Continuava a olhar para ela fixamente, parecendo que tinha acabado de acordar de um longo sono. Era uma sombra do velho decrépito que tinham vindo visitar.

-Você que vai decidir quanto vai custar - ela sentiu a cabeça latejar, a boca muito seca.

O marido, que ainda segurava a carteira até ser interrompido, esboçou um sorriso:

-Ah, é desse jeito... - suspirou, pensando na quantia que proporia à esposa.

Para ela, seu marido parecia distante e terreno. Sentia o coração cavalgar no peito gelado, aqueles imensos olhos do velho ardendo como o sol ao meio-dia.

O marido lembrou que já estavam de saída, e atravessou a porta procurando as chaves do carro nos bolsos. Ela, ainda parada, encarava o velho, de pé.

- Volte com alguém que mereça viver seu destino - ele disse - volte com alguém que só mereça viver mais um ano.

Ele sentou-se novamente; e ela se viu em um ridículo consultório, cheio de cheiros velhos e objetos estranhos de ocultismo, com um homem de barba seca e corpo envergado, sentado numa poltrona antiga e carcomida.

Saiu rápido de lá.

O pânico, que lhe apertava o peito assim que partiram com o carro, era se acreditaria naquilo tudo. Ou se deveria.

"Não temos o direito de consumir felicidade sem produzi-la."

terça-feira, agosto 22, 2006

No one cares about your blog 


Ou se importa?
Quem se importa com VOCÊ, realmente?


Todos aqueles números no jornal: 300 mortos em explosão no oriente médio, na sétima da semana. Furacão deixa 1000 desabrigados, alguns mortos. 100 desaparecidos, seqüestrados, mutilados, expulsos, excluídos, milionários.
Quem são eles, afinal?

Aquele número de contatos do seu Orkut, aqueles vários números telefônicos da sua agenda que você nunca realmente ligou. Quem são eles?

Se 50% da população global fosse abduzida, e não estamos falando de americanos famosos ou alguém da sua família, mas dessa mesma grande massa de anônimos que nunca fez uma ligação telefônica na vida? Será que iríamos dar falta?

Só se todos resolverem pular ao mesmo tempo, reza a lenda urbana, quem sabe fariam a Terra tremer...


Mas continuaríamos a ignora-los: "Bilhões pulam e fazem um terremoto".


Realmente, não importa.


Nem eles, nem você, nem esse blog.


Quer dizer, pra mim esse blog importa.


Estranho esse bicho humano, perdido entre a sociedade e seu individualismo fundamental.

Paradoxo engraçado...

...alguém aí já viu umbigo de formiga?



"Morality is the herd-instinct in the individual."

quarta-feira, agosto 16, 2006

Você é aquilo que escuta 


É a mesma história de sempre: você embarca no avião da Oceanic e em algum lugar alguma coisa dá errado e você caí numa ilha deserta com seu ipod que só cabe cinco álbuns completos...

Enquanto tenta sobreviver, ou espera os 108 minutos para mexer no computador velho que achou no abrigo, escuta sempre os mesmos cinco álbuns. Quais você levaria?

Sem a menor escolha pensada, associação livre, lá estariam:

1- Os Mutantes - Jardim Elétrico
2- The J.B.'s - Funky Good Times
3- 1200 mics - 1200 micrograms
4- Cypress Hill - III - Temples of Boom
5- Rage Against the Machine - Rage Against the Machine

Ah! Mas sua coleção completa dos Beatles em mp3 ficou naquele DVD de backup? Wu-Tang Clan, Dr. Dre e outros ficaram em seu apartamento na civilização? Quero meus 40gb de música de volta???

Paciência, meu amigo. Quem sabe você acha um bom LP perdido por aí...



"Life's not so bad, right? Sure the Others are coming to, like, eat us all, and every once in a while someone blows up all over you, but you do get to sleep in every morning."

terça-feira, agosto 15, 2006

Tudo tem data de validade 

Li por aí que blog bom mesmo tem atualização diária, no mínimo. Aqui, se for mensal, tá bom demais...

Publicar por publicar, já que não tenho editor, pode ser qualquer coisa. Improviso besta, descarado, com alguma brilhante reflexão nascida entre os inspiradores azulejos do banheiro.

Colocado assim, até parece que é só escrever bobagem e tudo vai dar certo. Claro que isso é só meia verdade: a outra é encontrar laranjas e marinheiros de gaiato dispostos a gerar receita. Público, pra tudo, tem.

Talvez, se eu colocar uma carcaça no sol, pelo menos as moscas aparecem.

Ou será que é justamente esse sarcasmo em superdosagem que as espanta?

Taí, quem sabe, uma nova revolução nos repelentes...

"Carve your number on my wall
And maybe you will get a call from me
If I needed someone"

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