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sexta-feira, abril 29, 2005

Diário de um louco 

Às vezes, mergulho num profundo estado de imaginação tão incendiário que Tudo se transforma em Era Uma Vez.

Leafar.

"There used to be a real me, but I had it surgically removed."

quarta-feira, abril 06, 2005

Quando até o cachorro é só uma metáfora 

Dizer que tudo começou com a mordida do cachorro seria, no mínimo, insensatez. Mas, como é preciso começar de algum lugar (tal como dizem que o universo começou com um ponto que, sabe-se lá porque – peteleco divino? – explodiu num grande ‘bang’), podemos começar dizendo que foi a partir da mordida que tudo mudou.

Andava tranqüilo, talvez um pouco ressabiado de algumas coisas, mas assobiando sempre uma melodia alegre, quando veio lá o cachorro e me mordeu (afinal, os cães sempre têm um bocado de motivos, alguns muito estranhos, para morder alguém).

Doeu bastante. Se pudesse chutava a boca do vira-lata com todo prazer vingativo, bruto e cru do mundo. Mas parei, olhando para aquele animal, enquanto dentro de mim toda uma satisfação e feliz plenitude com minha própria vida se transformavam em amarga azia, queimando em nauseante mágoa. O arroto ardido após uma refeição perfeita.

Do cachorro não sabemos o fim, porque não tem importância o bastardo, a não ser ter me deixado só e imerso em dúvidas e culpas que até então embernavam em silenciosa paz.

Atire a primeira pedra que não tem pecados. Atire a primeira mágoa quem não tem um poço estagnado, cheio, quase transbordando. Todas as pessoas que me machucaram, que jamais perdoei. Por que? Todas as pessoas que magoei, que jamais me perdoaram. Por que?

Afundei em um turbilhão de fantasmas de todos os personagens da minha vida, de muitas perguntas e poucas respostas, de ter doado a outra face e ter virado as costas.

Fiz questão de mergulhar fundo no redemoinho. Poderia ter ficado girando e girando em lenta agonia, enchendo a vossa paciência com lamentos chorosos de uma viúva melancólica. Já nos basta nossa própria neurose, pra que encher um texto com ela?

Lá no fundo descobri o ralo, cuja tampa a estúpida mordida do cachorro arrancou, e vi que o era esse buraco ‘mais em baixo’ (ou que mais se aproxima dele): o velho amar e o eterno ser amado.

Antes que muito mais de mim escorresse, sanei o vazamento com um tampão prático: o que posso fazer é mostrar de quem eu gosto, e deixar que algum sal de fruta combata a acidez das mágoas.

E, nas horas vagas, tomar um pouco mais de sol. Ajuda com o bolor, sabe?

“Seu coração de cinza socada, que resistira sem quebrantos aos mais duros golpes da realidade cotidiana, desmoronou-se aos primeiros embates da saudade.”

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