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terça-feira, dezembro 12, 2006

Peço a palavra, senhores 

Era uma grande conferência mundial, dessas que só acontecem nas nossas cabeças, com as grandes vozes do mundo reunidas em prol da humanidade. Os Políticos não foram, claro, tinham mais o que fazer.

Tudo bem que o tema não era muito óbvio, ou melhor, já era motivo de discórdia. E por isso resolveram apenas chamar de "Grande Reunião Sobre o Mal-estar da Humanidade".

Do lado de fora, piquetes pró e contra o tema brigavam entre si e com a polícia, que fez questão de usar bombas de gás lacrimogêneo, tropa de choque e pimenta nos olhos dos outros, refrescando a multidão.

Lá dentro, já que a massa otimista, carinhosamente chamada de grupo Poliânico pelos demais, fora proibida de entrar, o consenso pelo menos era geral: nós, humanos, sofremos. E muito. Por que?

Assim, cada qual gritava mais alto, dentro e fora dos grupos, pela supremacia das idéias que seguia:

O grande grupo de Religiosos ocidentais (já que a conferência era 'mundial' mas só dizia respeito ao ocidente), leitores e fiéis da Bíblia, diziam que é porque fomos expulsos do Paraíso. Tá lá no começo. Quem nos mandou querer maçã, demais, mais, tudo?

Os Psicanalistas, sem se levantar, diziam que é a Castração, a Pulsão de Morte, o diabo a quatro inconsciente. Ninguém percebeu, mas eles escolheram o título da Reunião, apesar de todos os outros acharem que os méritos eram próprios.

Os Filósofos falaram tanto não concluíram que nada sabiam. E só eles entenderam.

Os Cientistas, liderados pelos Biólogos, não tiveram muita cerimônia em ditar: adapta-te ou morra. Fazer o quê, se míope era pra estar extinto?

Os Artistas encenavam, escreviam, pintavam, bordavam, rabiscavam, e mergulhavam no que nem eles sabiam direito o quê.

Lendo e ouvindo, Historiadores concluíram que a primeira coisa que o ser humano disse, antes da mesmo História, com certeza foi uma reclamação.

E muita gente, muita gente mesmo, concordou.

Mas a grande maioria não.

A cada grupo novo que se levantava, mais gente discordava, berrava e emburrava no seu próprio mal-estar.

Era tanta briga, farpa, perrenga e ódio, que conclui: Eita povinho insatisfeito, incomodado, infeliz.
E só miram na felicidade!

Como não sabia em que grupo entrar, subi no palanque e pedi a palavra, agulhando os ouvidos com maldita microfonia.

Também não sabia o que dizer. Sem muito pensar, recém potiguar, reclamei:

Nunca imaginei, algum dia, que fosse sentir falta do cinza de São Paulo. Da manhã de segunda-feira feia, nublada, ranzinza, engarrafada, fudida.

Vai fazer sol assim no inferno...



"Don't get lost in Heaven
They got locks on the gate
Don't go over the edge
you'll make a big mistake"

sábado, dezembro 09, 2006

Vespertino 

Quem nasceu pra ser vampiro,
nunca vai acordar com as galinhas.

"Eu faço samba até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade, que arde
E apressa o dia de amanhã

De madrugada ainda se ama
E a fábrica a buzinar
O trânsito contorna nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar

No colo da bem-vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação

Eu faço samba até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?

Não sei se preguiçoso ou se covarde

Debaixo do meu cobertor de lã

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã"









quinta-feira, dezembro 07, 2006

All in 

Grite, grite comigo até ficar sem ar
o coração como um cavalo
por você e por mim
já que não posso nem pensar

Que agora estamos furiosos
que agora estamos frustados,
jogados no meio do nada
sem ninho nem bolha

Chore, chore comigo até ficar sem cor
o peito amassado como uma bola de papel
por você e por mim
já que não posso tirar os olhos do horizonte

Ignoro cada cabeçada na ponta da faca
ignoro minhas pernas bambas
tantos caminhos que deixamos para trás
ou precisamos

Me abrace
que enfrento terra seca
para pendurar nossa rede amanhã
e hoje só podemos lamentar




"Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar"






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