sábado, dezembro 17, 2005
Ressaca
Sabia que fazia pouco tempo que estava embaixo d’água, mas já seus pulmões doíam pedindo ar.
O mar estava frio e agitado. A força da onda quebrando arrastou-a até bater seu ombro no fundo, fazendo-o latejar em dolorosa ardência.
Seu choro submerso rogava a Netuno ou Iemanjá que a atirasse nas profundezas escuras de seus reinados oceânicos, ecoando cada batida de seu coração rasgado mar adentro. Perguntava-se, num flash de lucidez, se quando ela estive morta ela saberia ou não; enquanto seu corpo era arrastado na força da ressaca como um boneco de plástico na privada. A fina garoa tornou-se chuva leve, escurecendo a praia de cinza.
Protegido no grande telhado do restaurante a beira-mar, ele apagava seu cigarro para apreciar as lulas fumegantes trazidas pelo garçom, quando teve a ligeira impressão de ter visto alguém nas águas furiosas da tempestade. Observou melhor por uns cinco ou seis segundos, quando achou melhor deixar para lá. Qual a possibilidade de uma mulher ruiva, (exatamente como sua namorada - precisava dizer isso na terapia), entrar no mar com esse tempo lá fora?
Só se fosse para se matar mesmo; mas afinal quem seria idiota o suficiente para cometer suicídio se afogando?
Now he's gone,
I dont know why.
And till this day,
sometimes i cry.
He didn't even say goodbye,
he didnt take the time to lie.