sábado, dezembro 25, 2004
Última carta para o bom velinho.
Querido Papai Noel,
Por favor, nunca deixe de existir.
Beijos, Abraços e Hohohos,
Rafa.
"If youth knew; if age could."
Por favor, nunca deixe de existir.
Beijos, Abraços e Hohohos,
Rafa.
"If youth knew; if age could."
terça-feira, dezembro 07, 2004
Pulp life
Lá do alto, os postes manchavam tudo com sua luz amarelada e doentia; do asfalto em ruínas ao topo das árvores, que pareciam em chamas. Avançava pela Marginal com o velocímetro travado no 100, no rosto o ar refrescante da madrugada, adocicado pelo cheiro de merda do esgoto da cidade.
Vi um vulto caminhando pela pista, calmamente, sob a sombra de uma das pontes. Homem ou mulher, muito escuro para ver. Acho que carregava um pacote. Provavelmente um dos muitos flagelos humanos penados que assombram o lixo. Andava tão devagar que deveira estar bêbado, sonhando com alguma coisa melhor, como um suicídio. Ignorava o farol alto. Não tirei o pé do acelerador.
Ao sabor sarcástico do acaso, sem mudar de faixa, sem mudar a velocidade. Como a porra de um problema de física da fuvest, o carro A iria acertar o incauto transeunte B em inevitável e sangrenta colisão. Apaguei o baseado.
O letárgico infeliz acelerou o passo de repente, fugindo do farol que se aproximava rápido, num reflexo digno das melhores ratazanas com que coabitava. Pena.
Continuei em frente, por toda eternidade. E ainda estava longe pra caralho.
Mais à frente, um carro solitário parado no acostamento, abençoado pelo silêncio das três horas da manhã de terça-feira. Porta-malas aberto, um cara sozinho tentando trocar o pneu, com a chave de roda na mão. Gol bem conservado, filmado e bonitinho. Que azar, hein?
Dentro das normas de etiqueta e toda ritualística do Códico Nacional de Trânsito, passei por ele devagar e encostei. Sorri como um bom samaritano deve fazer ao indicar suas nobres intenções, e abri o vidro do passageiro. Aproveitei enquanto ele caminhava até a janela para acessar o porta-luvas. Ele parou do lado do carro, avaliando minha cara de bom-moço. Deveria estar precisando de ajuda, com aquelas manchas cafonas de suor na camisa para dentro da calça. Abaixei o som do rádio, indicando que iria fazer-lhe a perguntinha desejada "Quer ajuda, grande?".
Quando ele se aproximou um pouco mais da janela, sorrindo também, atirei bem no meio da testa.
Caiu devagar. A chave-de-roda batendo no asfalto num último suspiro metálico.
Arranquei pela rua deserta.
Dormi sozinho como não fazia há anos; eu e nenhum dos velhos pesadelos.
"Monsters we are, lest monsters we become"
Vi um vulto caminhando pela pista, calmamente, sob a sombra de uma das pontes. Homem ou mulher, muito escuro para ver. Acho que carregava um pacote. Provavelmente um dos muitos flagelos humanos penados que assombram o lixo. Andava tão devagar que deveira estar bêbado, sonhando com alguma coisa melhor, como um suicídio. Ignorava o farol alto. Não tirei o pé do acelerador.
Ao sabor sarcástico do acaso, sem mudar de faixa, sem mudar a velocidade. Como a porra de um problema de física da fuvest, o carro A iria acertar o incauto transeunte B em inevitável e sangrenta colisão. Apaguei o baseado.
O letárgico infeliz acelerou o passo de repente, fugindo do farol que se aproximava rápido, num reflexo digno das melhores ratazanas com que coabitava. Pena.
Continuei em frente, por toda eternidade. E ainda estava longe pra caralho.
Mais à frente, um carro solitário parado no acostamento, abençoado pelo silêncio das três horas da manhã de terça-feira. Porta-malas aberto, um cara sozinho tentando trocar o pneu, com a chave de roda na mão. Gol bem conservado, filmado e bonitinho. Que azar, hein?
Dentro das normas de etiqueta e toda ritualística do Códico Nacional de Trânsito, passei por ele devagar e encostei. Sorri como um bom samaritano deve fazer ao indicar suas nobres intenções, e abri o vidro do passageiro. Aproveitei enquanto ele caminhava até a janela para acessar o porta-luvas. Ele parou do lado do carro, avaliando minha cara de bom-moço. Deveria estar precisando de ajuda, com aquelas manchas cafonas de suor na camisa para dentro da calça. Abaixei o som do rádio, indicando que iria fazer-lhe a perguntinha desejada "Quer ajuda, grande?".
Quando ele se aproximou um pouco mais da janela, sorrindo também, atirei bem no meio da testa.
Caiu devagar. A chave-de-roda batendo no asfalto num último suspiro metálico.
Arranquei pela rua deserta.
Dormi sozinho como não fazia há anos; eu e nenhum dos velhos pesadelos.
"Monsters we are, lest monsters we become"