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segunda-feira, novembro 03, 2003

Aventuras de Rafa no Paí­s das Maravilhas 

Ele acordou pastoso, como era de se esperar em uma manhã de segunda-feira. O maldito alarme do radio-relogio, trompetas do inferno, ainda ecoam em sua cabeça enquanto ele cambaleava até o banheiro. Terminou de despertar quando pressionou a descarga. Dos pequenos prazeres, provavelmente a urina matinal é o principal.
Já ia saindo do banheiro quando resolveu dar uma espiada no espelho, só pra ter certeza.
Não tinha se dado o trabalho de acender a luz, e ainda não o fez. A claridade já era suficiente pra ver que estava tudo ali.
Ele, com cabelo espetado, o banheiro, frio, ele dentro do espelho, também com o cabelo espetado, o banheiro do espelho imitando o banheiro real. Será que dentro do espelho o banheiro também estava frio?
Reparou então naquele sorriso, de orelha a orelha. Um sorriso que poderia durar para sempre. Não sabia que podia sorrir daquele jeito...
Começou a desaparecer bem lentamente, começando pelos pés e terminando pelo sorriso, que permaneceu por algum tempo depois do resto ter ido embora.

****

Acordou em uma floresta. Olhou em volta, esperando encontrar o gato de Cheshire sentado em algum galho. Claro que ele não estava ali, e no fundo ele sabia que nem poderia. "Gato maluco", pensou, e decidiu seguir pelo caminho de tijolos amarelos.

Não andou muito e logo saiu da floresta. Estava em um deserto quente, infernalmente quente, com algumas arvores secas e retorcidas aqui e ali. Logo encontrou uma figura escurecida por uma sombra que não vinha de coisa alguma. Derretia vários relógios ao sol.
Mesmo ofuscado pelo brilho, pareceu reconhecer ao estranho: "Dali?"
"... as drogas...." resmungou o misterioso ser.
"Poderia me dizer que lugar é esse? O Pais das Maravilhas? A Terra do Nunca? Oz?"
Da pequena penumbra: "O que há além disso?"
"Ora Dali, há muitas coisas. Por exemplo, o meu banheiro que estava agora pouco e.."
""amarelo e verde ao mesmo tempo"..., interrompeu Dali, "Realidade?"
"Sim, acho que a Realidade. Além disso há a Realidade. Ou pelo menos alguma coisa mais real que esse lugar. Veja só, eu nesse sol e nem estou suando!"
Mas logo percebeu seus pés estavam afundando nos tijolos da estrada, que pareciam se transformar em piche. Ou caramelo.
Resolveu continuar, já que Dali não parecia muito disposto a ajudar.

Caminhou, caminhou e caminhou. Saiu do deserto e continuou caminhando, até encontrar um elevador. Como a única opção era subir até o 6º andar, subiu.
Chegou em um hall pequeno, que cheirava muito mal. Fedia como urina de um mamute. Respirou fundo e entrou no apartamento.

Uma placa apontava para um corredor esfumaçado "The Pipe Club is NOT this way". Resolveu ir para o lado oposto.
Encontrou dois serem sentados em um grande sofá listrado. Havia restos e restos de comida espalhados pelo chão. Cada um usava um estranho chapeu, mais parecido com um capuz, de um colorido muito parecido com o do sofá.
"Quem são voces?"
"We are the Wise-men of the Land." respondeu o gordinho com uma grande cabeça.
"Haulie. Bouncer." resmungou o pequeno cinzento ao lado dele.
"Por que vocês estão falando inglês? E ainda mais com esse sotaque esquisito. Vocês são britanicos ou algo assim?"
"Of course not. We speak this way because we are very very polite, sir."
"Indeed." concordou o menor.
"And because we are extremely wise, sir."
"Vocês não me parecem sábios..."
"Sorry sir, but you are young and naive."
"Exactly!" gritou o cinzento, excitado. "Fear and respect the Power of the Great Worm!"
"Poder do quê?? Escuta, esse aqui é o tal de Pipe Club, é?"
"Of course not. You are far beyond the Pipe Club."
"Yes!" o pequeno então ficou de pé e colocou as duas mãos na cintura "We are the Wise-men of the Land!"
"Join us and be wise, sir." Convidou o outro.
Ele achou que um pouco de sabedoria não poderia fazer mal, e se acomodou no sofa listrado...

Acordou em uma cópia barata do seu quarto. Assim que abriu os olhos reparou na estranha mulher de pé em sua cadeira, olhando pela janela através da veneziana.
Surpreso, perguntou: "Quem é você? E o que está fazendo aqui­?"
Ela não respondeu.
Ele insistou: "Não sei como viemos parar aqui, mas se a Rainha de Copas descobre que está aqui, teremos sérios problemas..."
Desta vez ela olhou para ele, e sem dizer uma palavra pediu silêncio com o dedo nos lábios.
Enquando decidia o que fazer, ele obedeceu. Não sabia quem ela era. Deveria ter mais ou menos sua idade, talvez um pouco mais velha. Não era feia, mas não era alguém que chamasse a atenção. Apesar de seu mistério deixa-la bela de alguma forma.
Quando foi falar novamente com ela, percebeu que não havia mais ninguém ali.

"O coelho, em sua pressa paulistana, ficou preso no engarrafamento da marginal"

E sua viagem chegou ao fim.

Pelo menos por aquele dia.



"Dizem que sou louco
por pensar assim
Se eu sou muito louco
por eu ser feliz
mais louco é quem me diz.
E não é feliz
Não é feliz"






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