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sábado, outubro 18, 2003

Braboletas e a tontera 

Para os filhos da Industria Cultural, segue o post anterior mastigado e digerido, quase um bolo...

Que sorte a nossa de que as únicas coisas racionais nesse mundão que Deus nos deu somos nós, os seres humanos.

Imaginem, por exemplo, se as lagartas tivessem nossa brilhante capacidade de reflexão e sabedoria...

Todos nós sabemos como é o ciclo de vida dessas criaturas (certo?). Resumindo: Mamãe borboleta, depois de transar bastante com papai borboleta em pleno vôo, escolhe uma planta cheia de folhas suculentas e bota lá seus ovinhos. Um belo dia, pequenas lagartinhas famintas brotam dos ovinhos apertados e já partem pra devorar a planta. Elas comem e comem todas as folhas verdes que encontram pelo caminho, até ficarem grandes e gordas. Aí­ elas procuram um lugar bem tranquilo e abrigado, se penduram de cabeça para baixo, e fazem um casulo. Ficam lá um tempão (se alguém quer saber, todo corpo é liquefeito pra depois ser moldado no futuro corpo do adulto...).
Um belo dia emergem belas borboletas, que tomam um solzinho até as asas secarem, e partem voando pra comer algum nectar numa flor bonita e encontrar o par romantico da sua vida. Simples e feliz.
(ok, ok, no meio do caminho alguém pode jogar veneno na planta, algum passarinho pode achar a lagarta gordinha um ótimo alimento pros filhotes, ou outras fatalidades da vida...)

Agora, imagine a lagarta 'consciente de tudo' como nós.
Primeiro, ela já nasce sem pai nem mãe, e os irmãos não querem saber dela. Provavelmente já se sentiria abandonada e triste. Como está carente (e com fome mesmo) começa a se entupir de folhas.
Entre um suspiro e outro, enquanto mastiga, pensará em se atirar lá do alto da arvore e acabar com toda sua insignificância existência rastejante.
Aos poucos vai ficando mais velha, maior, e já descobre o que vai acontecer com o corpo dela...
'achar um lugar seguro?? não tem nenhum por aqui!' 'mas tenho tanto medo disso! e se não sair de lá uma borboleta?' 'E se minhas asas forem feias?' 'E se não souber voar??' 'Morro de medo de alturas!' 'Tenho horror dessa idéia de ter que ficar num casulo! cruz-credo!' 'E quem disse que vou encontar alguém que goste de mim?' 'Sou tão insignificante, gorda, mole e desajeitada! Não vou conseguir fazer nada disso...' 'Ah, que bom seria! Mas é só um sonho mesmo. Pros outros até que pode ser, mas não pra mim...'
etc, etc, etc..
Aí­ nossa lagarta desiste de tudo, de sua possibilidade de conseguir ser feliz, e resolve continuar comendo folhas e engordando, deprimida até a velhice. Provavelmente se arrependa no momento da morte.
Ou então só suspire "tadinha de mim" antes de deixar essa vida.

E ai não haveriam borboletas.


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