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domingo, novembro 02, 2014

era um homem 

Hacker, é analógico que eu acabe entrando. Porque, na verdade, preciso sair.

Acho que bebi demais e acessei recantos proibidos.
 Azar o teu que me segue. Não deveria.

Me sinto como Batman sem a Máscara.

O que só acontece depois de apanhar bastante.

  Vi ontem um bicho
 Na imundície do pátio
 Catando comida entre os detritos.

 Quando achava alguma coisa,
 Não examinava nem cheirava:
 Engolia com voracidade. 

 O bicho não era um cão, 
Não era um gato, 
Não era um rato.
 O bicho, meu Deus, era um homem.

domingo, novembro 28, 2010

Rafa is Dead 

Acabou. É o fim. Kaput.

Rafa não existe mais, está morto, assim como o Deus de Nietzsche.

Largue a Bíblia, vá ler Filosofia. Deixe a Filosofia, vá estudar as Religiões do mundo. Abandone as Religiões, e responda sozinho à todas as suas perguntas, próprias ou impróprias.

A Matrix desmorona, metáfora datada desprovida de sentido ou razão. "There's no spoon". Agentes por toda parte, há gente demais nisso aqui. Inverteu-se o sentido da profunda introspecção.

Sonhei novamente com enormes asas brotando das minhas costas, depois de sabe-se lá quanto tempo. Tempo demais, o suficiente para a certeza que chegou a hora de voltar a voar.

Mas para isso é preciso ser leve, e aqui nesse blog as âncoras estão presas no fundo, enroscadas para sempre. Rompo as correntes, deixo um adeus.

Ridículo dizer, caro leitor, foi bom enquanto durou.


Fique no escuro, acenda uma vela.

Cante parabéns em silêncio.

Respire fundo, e assopre-a com todo ar de seus pulmões.

Só não se esqueça de acender a luz depois.



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"GAME OVER. - Please insert a coin"

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segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Rafa Redemption 

É incrível a quantidade de visitantes gringos do blog que caem nas páginas mais antigas, de 2003, quando os contos eram pouco e a variedade grande.

Era um espaço mais lúdico, sem compromisso com revisões e todos as transpirações necessárias a qualquer escrita mais profunda.

Acho que adoram mesmo quando eu fuçava a internet atrás dos roteiros de filmes relevantes, postando quotes, trechos e pensamentos.

Já tinha cansado de procurar esse por aí, lendo e relendo o conto original sem encontrar nada, e não é que hoje São Google me presenteia com o que procuro, logo no primeiro achado?

Nem foi tão difícil assim, Andy dizer por mim:

"You're right. It's down there, and I'm in here. I guess it comes down to a simple choice, really. Get busy living or get busy dying."

quinta-feira, novembro 05, 2009

There is no Matrix 

Alguma coisa aconteceu por aqui.

Ou melhor, falta alguma coisa acontecer por aqui.

E dessa ausência surge a interrogação: o que aconteceu por aqui?

Nada mais é escrito, comentado, alucinado. Nada mais é, senão memória nos servidores em porões da Internet, nos neurônios de quem leu e nos sonhos de quem viveu.

Mas o presente não existe, o que é muito triste, rima barata que o poeta esqueceu.



Talvez alguma coisa tenha acontecido com o autor.

Sumiu, se escondeu no Polo norte enquanto ainda há gelo por lá. Procurando pelo bom velhinho, perdendo os dedos no frio.

Foi assassinado por algum inimigo esquecido, amor traído, parente ofendido.

Foi pego numa rede de intrigas e conspiração.

Foi linchado pela multidão, preso político de oposição, jaz esmagado numa estrada vicinal, atropelado.

Apodrece aos poucos, emparedado, cobrindo a parede com bolor, a casa com cheiro de fossa aberta, que ninguém nota.

Dizem ainda que está no hospício, babando restos da indústria farmacêutica, tentando se matar quando tem uma chance. Será que a camisa-de-força é apertada demais?

Testemunhas já o avistaram vivendo entre índios no mar verde da Amazônia, em uma cabana de pescadores numa ilha afogada no Pacífico, nas sarjetas sujas da madrugada de Las Vegas, nos porões de um navio mercante enferrujado, em incontáveis fotos em perfis do orkut e facebook.

Mas quem pode acreditar em testemunhas? Discos voadores?


Pior se estiver sem novas ideias. Para um autor, é a mesma coisa que estar morto.

Será a correria do dia a dia? Mesmo sem tempo, alguma esperança deve haver, já que tempo mesmo nunca existe para certas coisas. Por que, então, a ausência?


Há alguém aí? Aqui?

Essa fagulha, vinda sabe-se lá de onde, diz que sim.

Se a alma ainda vive, ectoplasma eletromagnético ou encarnado, deve existir ainda um fio de esperança.




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"For my part I know nothing with any certainty, but the sight of the stars makes me dream."

quinta-feira, abril 09, 2009

Livro de História do Brasil - Sec XXI - O Império do Saudável 

Não suficiente a liberdade alheia, as garras rochosas da Repressão escolhem novas vítimas no início do século XXI. Como vimos nos capítulos introdutórios, milhares de anos evoluindo mentes símias que naquela época ainda precisavam de inimigos, parias, bois-de-piranha e bodes-expiatórios. A cruzada, nesse período pós-moderno, é pelo corpo saudável, vivam os narcisos e todos os espelhos do mundo digital.

Fascistas simpáticos a ordem médica e a saúde como fim absoluto assaltaram o legislativo do politicamente correto; nasce o populismo da boa forma.

Assim, em 2009, uma lei paulista proíbe o fumo em todos os lugares coletivos fechados, públicos ou privados.

Em julho de 2011, os fumantes foram obrigados por lei a usar uma identificação no braço, já que seus corpos liberavam perigosas excreções cancerígenas. O mesmo símbolo tornou-se obrigatório, no ano seguinte, para a porta de suas residências, onde ainda tinham autorização para o vício.

Como a fumaça afeta a oxigenação cerebral, além das alterações psicoativas da nicotina e outras substâncias, em 2016 os fumantes foram tomados por incapazes, perdendo seus empregos e propriedades para o governo e não fumantes.

A seguir, em prol da saúde coletiva, a chamada corja fétida foi transferida para guetos enfumaçados, criados ou próximos a aterros sanitários, ou em prédios abandonados de antigos parques industriais degradados.

Os viciados em gorduras proibidas, banidas oficialmente em 2013, além dos obesos, foram mandados meses depois, sufucando o ar já abafado com o cheiro de fritura e churrasco clandestino.

Em 2022 começa a reciclagem em massa, os não-saudáveis transferidos em modernos trem-bala de suas respectivas zonas de detenção até a EcoFábrica de Reaproveitamento e Esterilização de Orgãos Humanos Contaminados, vulga Solução Final.



Hail Saúde!



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“Freedom is not worth having if it does not connote freedom to err. It passes my comprehension how human beings, be they ever so experienced and able, can delight in depriving other human beings of that precious right.”

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Amanhã nunca chega 

Tanto o calendário Maia quanto Nostradamus escolheram 2012 para o fim do mundo, um alinhamento cósmico que só acontece de vez em nunca.

Provável mesmo é que em 2013 escolham uma nova data pro fim, esse Apocalipse sempre é adiado, para infelicidade da imensa maioria que realmente torce para que alguma grande mudança aconteça em suas vidas, catástrofe ou não.

Mas amanhã ainda é 2009, o que nos deixa com um bocado de tempo para aproveitarmos esse mundo enquanto ele dura.

Assim, sem códigos cifrados malucos, faço minhas próprias previsões, na lata:


- As praias vão amanhecer cheias de garrafas, velas e flores rejeitadas pelo mar. E alguns bêbados.

- Meus cães vão enlouquecer nas primeiras horas de 2009. Malditos fogos.

- A dieta prometida não dura mais de um mês; ou começa só depois do Carnaval.

- O mesmo para os exercícios físicos.

- Alguns vão parar de fumar. Outros vão começar.

- A grande maioria das pessoas vai escrever errado. Quem teve a genial ideia do bug ortográfico?

- Algum cheque será datado para janeiro de 2008.

- Vou comemorar trinta voltas de existência em torno desse sol, achando isso um bocado estranho.

- Vou fazer o que eu realmente quero menos do que gostaria, e o que não quero infinitamente mais.

- Não vou ganhar na mega-sena, mesmo apostando e sonhando toda vez.

- Vou prometer, mais de uma vez, parar de escrever assim de impulso. E não vou cumprir.

- Amanhã vou me arrepender da ressaca.



Feliz esperança renovada. Adeus fantasmas de outrora.




"As for the future, your task is not to foresee it, but to enable it."

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Neuropsicanálise - GSP e Superego 

Já faz um tempo que pretendo compilar artigos científicos na herculana tentativa de criar uma ponte entre resultados neurocientíficos publicados e conceitos psicanalíticos.

Ainda que Lacan afirme que tal diálogo é impossível, dada a natureza objetiva da ciência e o referencial subjetivo da psicanálise, acredito que Freud só deixou de lado o método científico pela precariedade da Neurologia de sua época. Hoje, principalmente com os avanços da neuro-imagem, essa 'alma' que Freud mergulhou e explorou magistralmente está mais acessível.

Obviamente a Psicanálise e a Neurociência (influenciada hoje pelo enfoque Cognitivista; e em menor grau pelo Evolucionista) são linguagens completamente distintas. Qualquer tradução direta, de um lado ao outro, provocará distorções e infinitas discussões sobre a exatidão dos termos. Peço, assim, certa flexibilidade de raciocínio ao leitor, uma vez que o objetivo é apontar como a lógica inerente ao fenômeno é a mesma: a mente humana e suas vicissitudes.

Para uma referência rápida sobre os assuntos, sugiro:

Neurociências - Desvendando o Sistema Nervoso. Mark F. Bear - Barry W. Connors - Michael A. Paradiso. Artmed Editora. 2ª Edição.

Vocabulário da Psicanálise. Jean Laplanche -Jean Bertrand Pontalis. Editora Martins Fontes.

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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18838634?dopt=Abstract

Neural response to self- and other referential praise and criticism in generalized social phobia.

Blair K, Geraci M, Devido J, McCaffrey D, Chen G, Vythilingam M, Ng P, Hollon N, Jones M, Blair RJ, Pine DS.

Mood and Anxiety Program, National Institute of Mental Health, 15K North Dr, MSC 2670, Bethesda, MD 20892, USA. peschark@mail.nih.gov

CONTEXT: Generalized social phobia (GSP) is characterized by fear/avoidance of social situations. Previous studies have examined the neural responses in GSP to one class of social stimuli, facial expressions. However, studies have not examined the neural response in GSP to another equally important class of social stimuli, the communication of praise or criticism. OBJECTIVE: To examine the neural response to receipt of praise or criticism in GSP; specifically, to determine whether patients with GSP show an increased response to the receipt of both praise and criticism and whether self-relevance modulates this relationship. DESIGN: Case-control study. SETTING: Government clinical research institute. PARTICIPANTS: Unmedicated individuals with GSP (n = 17) and age-, IQ-, and sex-matched healthy comparison individuals (n = 17). MAIN OUTCOME MEASURE: Blood oxygenation level-dependent signal, as measured via functional magnetic resonance imaging. During functional magnetic resonance imaging scans, individuals read positive (eg, You are beautiful), negative (eg, You are ugly), and neutral (eg, You are human) comments that could be either about the self or about somebody else (eg, He is beautiful). RESULTS: Hypothesized significant group x valence x referent interactions were observed within regions of the medial prefrontal cortex and bilateral amygdala. In these regions, the patients with GSP showed significantly increased blood oxygenation level-dependent responses, relative to comparison individuals, to negative comments (criticism) referring to themselves. However, in contrast, there were no significant group differences with respect to negative comments referring to others or neutral or positive comments referring to self or others. CONCLUSIONS: These results implicate the medial prefrontal cortex, involved in the representation of the self, together with the amygdala, in the pathophysiology of GSP. Further, findings demonstrate a meaningful effect of psychological context on neural-circuitry hyperactivity in GSP.

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A relação aqui com a Psicanálise é direta, se consideramos a instância psíquica Supereu (Superego). Tanto às funções que são hoje atribuídas ao córtex pré-frontal; quanto seu desenvolvimento (maturação) tardio - que em muito coincide cronologicamente com o desenvolvimento psíquico proposto pela psicanálise.

É evidente que não estou apontando para uma área anatômica e dizendo "eis o Superego", o que seria ridículo. Mas é possível sim atribuirmos o que Freud nomeou Isso (Id) aos fenômenos funcionais relacionados ao sistema mesolímbico (mais primitivo evolutivamente), e sua complexa interação (e ativação) com o córtex pre-frontal.

Numa 'tradução' livre, o que esse artigo diz em psicanalês é: o quadro psicopatológico rotulado de 'fobia social generalizada' está diretamente relacionada à severidade superegóica.

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Pensando no desenvolvimento e as semelhanças cronológicas, futuramente vou procurar artigos sobre a retração do mecanismo de recompensas (neurociência), e a possível relação com a resolução do Complexo de Édipo e a Latência subsequente...






"I love those who yearn for the impossible."

terça-feira, novembro 11, 2008

Ultraviolet amphibian dreams 





"Poetry is the art of creating imaginary gardens with real toads."



quinta-feira, novembro 06, 2008

Entalado na garganta 

Na briga com espinhos afiados e mortais, todo prazer do jantar esvai-se rápido, insatisfeito e complicado. Nem gosto tanto de peixe, mas o velho devora ágil, animal treinado nas artes da pesca e comida farta. Hoje é dia de celebrar, disse ele, esse peixe é iguaria rara e cara, só esse chef sabe preparar corretamente. O nome escapou-me, inteligível e desinteressante. Não cheguei a abrir o cardápio, mas o couvert prometia uma bela refeição. Um suspiro me escapa discreto, enquanto deito os talheres no prato.

Incapaz de lembrar que não gosto de beber enquanto como, meu tio pede ao garçom mais dois uísques, ainda que em meu copo os 21 anos de paladar empoçaram pela metade, quente e desagradável. Mas ele está empolgado e feliz, chegou o grande dia. Vejo a gordura brilhar em seus lábios glutões, a realização de finalmente anunciar sua aposentadoria, e entregar a mim o trono de seu legado, iluminando seus olhos de predador. Nos preparamos toda uma vida para isso, brindou-se, viva a conquista ao fim da grande jornada.

A única coisa errada sou eu, algo dentro de mim que não condiz com o momento. Por que sinto esse vazio, agora que venci?

Sonho acordado, em desacordo comigo mesmo.

Meu tio fez muito sucesso e riqueza na década de noventa, quando trocaram do dinheiro as caretas de patriarcas e coronéis carrancudos por animais selvagens, fauna brasileira. Viva a Real selva capitalista moderna, livre de zeros inúteis e planos desastrados.

Negociatas, contratos milionários e licitações importantes, ele soube explorar bandeirante as privatizações e a abertura econômica. Hoje me entrega o complexo império, ele já começando caducar, maquinaria gasta e murcha embaixo de banha e rugas. Dele aprendi tudo que sei profissionalmente, e contaminei-me com certos hábitos ridículos, vícios poderosos e múltiplos prazeres.

Será que isso que sinto é a falta de companhia feminina nessa mesa? Pode somente um homem idoso, e um já passando de meio século, jantando a sós, ser tão deprimente?

Minha vida é ímpar, eu ainda a procura de um par. Companheiras foram algumas, que até alucinei casar, mas eram todas executivas – não de terno e gravata como eu, mas também desinteressadas em qualquer ato por menos de um milhar de beija-flores. Existe diferença entre meu sucesso e o trabalho delas, até daquelas que por uma garoupa você leva tudo que puder? Moralmente não, sexualmente sequer, se não na ordem dos fatores, quem paga, quem recebe.

E o tal amor deixei em uma fotografia de uma garota de 14 anos, sorrindo décadas atrás. Minha vida atrás.

Eu preocupado em encontrá-la, como ao acaso na saída da escola, para um cortejo encabulado. Minha mãe veio me dizer que, ao fim das aulas, iria me mandar para a capital: São Paulo é o mundo do Brasil, vai com teu tio que ele tá rico por lá. Com questões muito mais importantes na época, no caso saber se o atacante do meu time jogaria na final do dia seguinte, respondi que tudo bem, achava ótimo. E assim, aos 15 anos, vinha trabalhar nessa cidade.

Coitada de mamãe, morreu só, nem tive tempo de transferi-la para um hospital melhor (e mais perto). Só fui visitar seu túmulo uma vez. Ela fez questão de ficar por lá, cidadezinha típica de Minas que outrora também chamei de minha.

Engolindo o resto etílico antes que o garçom levasse, pensei como daria tudo para voltar. Mas dessa tal saudade sempre corri, fraco que sou, não gosto da dor que ela provoca. Por que agora ela resolve apertar meu peito desse jeito, nessa noite que deveria ser o grande momento de minha carreira?

Meu tio não parava de falar, entre um gole e uma garfada, infinitos conselhos, histórias e obrigações que eu já sabia de cor. E brindes e gargalhadas, tentava me contaminar com sua mania, insistindo para que eu bebesse mais, feliz como nunca o vi.

E eu com dificuldades cada vez maiores de sustentar o sorriso, amarelando e começando a doer no meu rosto. De maduro à podre, logo caiu. Nunca me vi tão infeliz.

Ou só agora, desse meu cume, que percebo tal fato? Posso comprar, a vista e em espécie, essa felicidade que me escapa? Tenho poder nas mãos, tenho os bolsos transbordando e toda tralha inútil que quero ter.

Olhando fixo para o prato, e sua carcaça semidevorada, minha mente corre para longe, para uma paz e satisfação que sei que perdi. Quando? Onde?

A saudade esmaga tanto que é impossível ignorá-la. Deixei com meus sonhos, minhas esperanças e possibilidades alguma coisa que nunca cheguei a ter. Não tive tempo, não lhes dei atenção. Estala em minha cabeça, olhando o caminho que percorri e aonde vim parar, que fui um idiota. Que porra eu fiz da minha vida, pra que tanto dinheiro assim? O que vou fazer com ele?

A imagem da casa de minha mãe, uma fazenda e a vida crescendo vagarosa em volta, paz bucólica, sincera e tola, é a única certeza que tenho. É a única resposta para esse buraco em mim.

Respirei fundo, bebi tanto do novo copo de uísque que meus dentes reclamaram gelados, e num impulso falei:

- Tio, agradeço a oportunidade, e tudo que me deu na vida, mas não quero o seu lugar não.

Ele me olhou arregalado, como se eu fosse um estranho. Quase engasgou. Engraçado essa capacidade de ler a expressão alheia, meu lado símio dizendo que ele não me reconhecia em absoluto. Fosse um enredo de mundo de novela, quem estava jantando com ele era algum irmão gêmeo meu, idêntico e maléfico, desaparecido até tomar meu lugar.

-Vou voltar para Minas, me assisti dizendo, recomeçar minha vida.

Um longo silêncio. Nós dois pensando no que diabos eu acabara de falar. Achei que ele fosse ter um treco, vermelho e suando. A adrenalina me fez rir, descontrolado.

Mas tinha certeza absoluta e irredutível que estava falando a verdade, principalmente para mim mesmo. Retomar minha vida.

Por fim, ele quase gritou, confrontando com olhos assustados e desesperados.

-Tá louco??

Agarrado na sensação daquele alívio feliz, respondi:

- Às vezes, a melhor alta do hospício é pular o muro.









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"E isto em segundo lugar: Manda-se naquele que não pode obedecer a si próprio. Tal é o modo do vivente."

sexta-feira, outubro 31, 2008

Bruxa perneta 

Antes de tudo, peço desculpas aos leitores por minha total ausência: mudança de casa, mestrado, texto rascunhado parado no meio....


Mas vamos ao que interessa: hoje é dia das bruxas. Ou Halloween, mas só pra quem fala inglês e consegue escrever esse treco corretamente.

Só que por essas terras tupiniquins corre um forte movimento de transformar o tal Ralouim em Dia do Saci, viva o folclore nacional! Abaixo a ditadura cultural imperialista com suas cabeças de morangas (não, não são abóboras!) e toda decoração de subúrbio norte-americano que copiamos dos filmes!

Na opinião deste que vos escreve, pouco interessa se é o cavaleiro sem cabeça ou a mula acéfala. Sempre achei a Sexta-feira 13 uma data muito mais sombria, se querem mesmo um dia pro sobrenatural. Cada ano cai num mês diferente, e o Jason sempre volta, sequência após sequência.

Engraçado que, esponja cultural de colônia que somos, uma série de outras coisas deveriam ser combatidas, seguindo a lógica do movimento saciniano: pinheiro de árvore de natal, neve falsa em pleno verão? Ou, pior, usar terno e gravata nos trópicos, longe da temperatura ambiente de geladeira? Aumenta aí o ar condicionado, que se dane o efeito estufa! (que também é culpa desses gringos!...)

Nessa minha terra potiguar, o vento constante torna o ambiente perfeito para os redemoinhos que tanto gostam os sacis. Aqui mesmo, nessa nova casa, mora um bem peralta. Quase arranquei seu capuz, mas o maldito é rápido. Vou tentar fumo, quem sabe ele vem...

O mais divertido? Dar parabéns às bruxas por aí, coitadas, às vezes demora para cair a ficha. E se alguma criança vier pedir doces, solto os cachorros nela, para inesquecíveis pesadelos futuros.


Feliz dia das bruxas pernetas. Ou dia do saci queimado na fogueira.




"Great cultural changes begin in affectation and end in routine."

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